domingo, 11 de janeiro de 2015

CIBERESPIONAGEM: Rússia e China querem fazer acordo de segurança na internet


Moscou e Pequim querem assinar um acordo de cooperação e parceria na área de segurança na internet ainda no primeiro semestre de 2015. Talvez isso aconteça na reunião da cúpula da APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) em Pequim, marcada para novembro. Mas algumas fontes afirmaram que o acordo poderá ser mais complexo e vai requerer  acertos detalhados. O diretor do Instituto russo de Pesquisas Políticas, Serguei Markov, entrevistado pela Voz da Rússia, explicou alguns aspectos do acordo:

“O acordo russo-chinês no domínio de segurança cibernética abrange vários aspectos. Tal convênio sobre a adoção de medidas de confiança no ciberespaço será uma espécie de pacto de não-agressão eletrônica. É inevitável que as relações entre a Rússia e a China tratem dos EUA. Rússia e os EUA já assinaram um acordo de segurança cibernética, mas ele não  proporcionou uma confiança recíproca completa. Nos últimos anos os EUA causaram muitos conflitos militares em vários pontos do globo e violaram um várias normas internacionais; daí existe a probabilidade de os EUA “se esquecerem” desse acordo feito com a Rússia, afirmou a notícia do site Voz da Rússia. A China também não confia muito nos EUA. Deste modo, a Rússia e a China não afastam a hipótese de eventuais provocações por parte dos EUA. Uma outra ameaça à ordem mundial são os movimentos radicais como o Estado Islâmico. Esses grupos extremistas podem ser combatidos só através de esforços conjuntos”.

Na visão dos peritos, a preparação de um acordo russo-chinês sobre ciberespionagem ilustra o desejo dos dois países de colaborar em todas as esferas. Quando comparadas com os EUA, Rússia e China demonstram enfoques mais reais e objetivos sobre os problemas atuais de segurança cibernética e de administração da Internet, salienta Serguei Markov:

Como o maior jogador no espaço informático, os EUA não se interessam por quaisquer limitações. Numa guerra cibernética, Washington espera sair vencedor. Por isso, a Rússia, a China e os outros países estão interessados em impedir isso. Atualmente, a Internet abrange todas as esferas da atividade humana. Por isso, os piratas informáticos podem, por exemplo, explodir uma usina atômica ou paralisar a vida em uma megalópole. O metrô, as redes de eletricidade e outros sistemas estão ligados à Internet. A Rússia e a China vão colaborar para criar os alicerces da segurança internacional nessa esfera importante”.

Especialistas no assunto advertem que a comunidade mundial deverá criar leis eficientes nesse assunto. Não se pode excluir a hipótese de um país, respondendo a um ataque virtual, poder retaliar com o uso de armas reais. Se o acordo russo-chinês na esfera de segurança cibernética for um sucesso, ele poderá lançar as bases para um documento análogo a ser celebrado pelos BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e, depois, a nível internacional.

Esclarecimento: a notícia foi adaptada para o português do Brasil e condensada para fins didáticos (alunos de ensino fundamental e médio do ensino básico) em 11 de janeiro de 2015.

Leia a notícia original (em português de Portugal): 

http://portuguese.ruvr.ru/news/2015_01_09/R-ssia-e-China-se-mostram-pela-seguran-a-na-esfera-cibern-tica-8958/

domingo, 28 de dezembro de 2014

Planilhas de cálculo: história e as grátis da atualidade

Planilhas de Cálculo

História do software

Em 1978 os computadores pessoais eram subaproveitados mas isso mudou quando Robert Frankston, estudante de economia, e Daniel Bricklin, programador, uniram-se para criar o Visicalc (figura 1), que foi o software que introduziu definitivamente os microcomputadores nas empresas. O software vendeu em pouco tempo 500 mil cópias originais, mas fez mais que isso: estabeleceu as regras das planilhas de cálculo, que ainda seguem o mesmo padrão (CALBUCCI, 1991).


Depois do Visicalc, surgiu em 1982 o Lotus 1-2-3, criado por Mitchel Kapor e Jonathan Sachs, que incorporou muitos recursos e novas funções, como manipulação de gráficos, editoração de relatório, construção de planilhas em três dimensões, ou seja, colocadas uma atrás da outra (CALBUCCI, 1991).


Figura 1. Planilha Visicalc. Fonte: Dan Bricklin (2014)


A célula foi o padrão estabelecido como unidade de cálculo desde o Visicalc (figura 1). As células são denominadas pela coluna seguida da linha. A numeração das colunas é feita com letras começando no canto esquerdo da planilha (A, B, C, D, etc.) e a das linhas por números começando na parte superior (1, 2, 3, etc…). As células podem conter três tipos de dados: números (inclusive fórmulas), textos e funções (ou comandos). (CALBUCCI, 1991). Veja na figura 1 que a coluna A explica o que foi pago, a coluna B são os pagamentos feitos, a coluna C a dos depósitos e a coluna D é o balanço, ou seja, quanto ficou de saldo na conta (positivo ou devedor).


Naquela época havia também um software chamado T-Calc, criado pela Microsoft para rodar nos seus computadores Tk-83 e Tk-85, fabricados por sua subsidiária Microdigital. Ele vinha em fitas k-7 (já ouviu falar?) e gravadores carregavam o arquivo no computador (veja as figuras 2, 3 e 4). O Tk-alc foi o “pai” da planilha mais famosa atualmente, isso mesmo, o Excel.



Figura 2. Fita K7 armazenando software TK-alc.
Foto: sidnei (dez. 2014)



Figura 3. Microcomputador TK-85. Foto: sidnei (Dez. 2014).
Aparelho com 16 Kb de RAM e que rodava na linguagem BASIC - Beginners All-purpose Symbolic Instruction Code – em tradução livre “código de instruções simbólicas para todos os propósitos para iniciantes” (MICRODIGITAL, 1983, p. 3/1).


Figura 4. Periféricos de computador em 1984! Fonte da figura: Rio Gráfica (1984, p. 20).
Gravador K7 e drive de disquete são coisas de museu, os demais foram grandemente aperfeiçoados. O track ball foi rebatizado depois como “mouse”.

Planilhas de Cálculo grátis da atualidade

Se você usa o sistema operacional Windows e não e não tem dinheiro para comprar um programa comercial, você tem a opção de baixar o LibreOffice, que é grátis, livre e totalmente em português. Ele possui editor de texto (Writer), planilha de cálculo (Calc), apresentação de slides (Impress), editor de desenhos (Draw) e banco de dados. 


Figura 5. Gráfico avançado criado no Calc do LibreOffice 4.2.
Fonte: Souza e Cavalcante (2014, p. 14).


Ótima opção de trabalho livre e gratuita para a criação de planilhas de cálculo e também para gráficos dos mais variados tipos. Em breve vamos dar as dicas de uso eficiente deste software.



Figura 6. Detalhe da tela do Calc do LibreOffice 4.2.8

O WPS (Writer, Presentation and Spreadsheets – Editor de Texto, Apresentação e Planilha) foi criado por uma empresa de Beijing (Pequim – China). É um ótimo programa, com visual lindo para computadores (PC e Note) mas, infelizmente, a versão gratuita está em inglês. Porém, a versão Android está toda em português e é o melhor software editor (Texto, Planilha e Apresentação) para smartphones e tablets que existe hoje em dia!


Figura 7. Tela do Spreedsheet (Planilha) do WPS para computadores.

Para Saber Mais:

Downloads de softwares livres

Para computador:

1. LibreOffice 4.2.8 – totalmente em português (versão estável de dezembro de 2014).

2. WPS Office para computadores (grátis). A versão grátis está em inglês e tem uma boa performance, porém ainda não está disponível em nosso idioma. A versão grátis (WPS HOME FREE) está disponível em: http://www.wps.com/windows/

Para Smartphones e Tablets Android:

1. Entre na Google Play Store e digite na barra de pesquisa WPS Office. É o melhor pacote office para smartphones e tablets e vem totalmente em português.

Esclarecimento:Todos os nomes de marcas de softwares e de empresas comerciais foram citados apenas para os objetivos educacional, científico e tecnológico visando ao desenvolvimento das capacidades cognitivas dos leitores deste blog mediante as liberdades fundamentais da Humanidade, expressas na Carta dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, aprovada e recepcionada pelo DECRETO Nº 19.841, DE 22 DE OUTUBRO DE 1945 e reproduzida na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 5°, especialmente os incisos IV, IX, XIII e XIV.

Referências

CALBUCCI, Marcelo. Planilhas de Cálculo. Jornal Informativo da Computação - JICO, número 6, ano I, novembro de 1991, p. 4-5. Rio Claro: Unesp, 1991.

Dan Bricklin Web Site. Visicalc Programm: History. Disponível em: http://www.bricklin.com/history/refcard1.htm. Acesso em 26 Dez. 2014.

RIO GRÁFICA. Micro Computador: Curso básico. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984.

Microdigital. TK-85 – Programação Basic: Manual de Operações. São Paulo: Microdigital eletrônica. 1983.

SOUSA, E. D.; CAVALCANTE, V (Eds). Lançamento: LibreOffice 4.2, a melhor suíte office livre. LibreOffide Magazine, Ano 2 – Edição 9, fevereiro de 2014, p. 5-17. Disponível em: http://pt-br.libreoffice.org/assets/Uploads/PT-BR_imagens/Magazine/LM-ED09.pdf
Acesso: 19 jun. 2014. Acesso: 19 jun. 2014.

1a versão para o blog, concluída em 28 de dezembro de 2014 às 16:26.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Softwares livres úteis


À esquerda estão os softwares proprietários mais conhecido e à direita os melhores softwares livres equivalentes ou até mesmo melhores e grátis.




Proprietário (pago) Livre (grátis)
Sistema Operacional Windows Ubuntu (melhor distro Linux). Tem suporte)
office MS Office LibreOffice, Kingsoft office
pdf
flash player
Adobe Reader
Adobe Shockwave flash
Foxit
Jing
imagem Adobe Photoshop GIMP
filme MS Movie Maker GSvideo
Editores
musicais
Encore, Finale, Cakewalk, etc. MuseScore
Audacity, Audacious
Sstema de Informação Geográfica SIG Idrisi, surfer... SPRING/INPE e GVSIG, por exemplo.
Navegador Internet Explorer Mozilla Firefox
Back Door SpyHunter4 Psafe Total
Manutenção de HD Ccleaner – há a versão limitada free. Little Registry Cleaner (limpa e repara o registro) e UltraDefrag (otimiza e desfragmenta o disco do PC).
Antivirus Norton, McAffee, AVAST, etc Psafe Protege, Clanwin.
Observação: o portal http://sourceforge.net contém a maioria dos melhores softwares freeware open source disponíveis na atualidade.

Geopolítica Digital é um blog de 
sidnei lopes ribeiro (aluno de pós-graduação do curso de especialização em Planejamento, Implementação e Gestão de EAD - PIGEAD, da  Universidade Federal Fluminense (UFF), Junho de 2014). 

Professor de Geografia na Rede Estadual de São Paulo desde 1992.

domingo, 8 de junho de 2014

Geopolítica Digital: a disputa de poder entre softwares proprietários e livres

Geopolítica Digital

A disputa de poder entre softwares proprietários e livres


Índice


1. Formatos abertos e fechados
2. Steve Jobs X Shockwave Flash da Adobe
3a. O caso ODF (Open Document Format) 
3b. Geopolítica: O Brasil na defesa do Padrão ODT X EUA e a Microsoft
4. A Educação, os formatos e os REA
5. Softwares livres úteis



“Exceto a comunicação face a face; a comunicação pessoal, interpessoal e social mediada por instrumentos será uma comunicação operada por software. Software e comunicação em rede dependem de padrões, protocolos e de formatos

(Sergio Amadeu da SILVEIRA, 2012, p. 111).




Formatos Abertos
Autor: Sergio Amadeu da Silveira in:

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: práticas colaborativas e políticas públicas

REMIXE ESTE LIVRO: http://livrorea.net.br
Adaptação do texto: Sidnei Lopes Ribeiro


1. Formatos abertos e fechados

O que é um formato? 
É um modo específico de codificar a informação para armazenar e recuperar arquivos de computador. Formatos são implementados por softwares, são digitais e podem ser fechados (proprietários) ou abertos (livres).



Nos formatos fechados os códigos das instruções para o computador salvar e recuperar as informações são secretos, patenteados ou licenciados em copyright pelo seu desenvolvedor e são pagos e caros. O “.doc” da Microsoft, por exemplo, é um formato fechado.


Formatos abertos têm sua codificação aberta e não estão submetidos a bloqueios legais de uso. Um exemplo é “.odt” (open document text), “concorrente” do “.doc”



Formatos são instrumentos de biopoder. 
Condicionam e em certas situações determinam nossa comunicação e nossa memorização. Em uma sociedade informacional com o uso intenso de softwares, a formatação do conjunto de informações e nossa memorização tornam-se dependentes de formatos digitais. Assim, as corporações de tecnologia procuram lucrar muito a partir do controle dos formatos.


Assim como nas cidades há disputas entre as classes sociais pela apropriação e usos dos espaços urbanos, os formatos representam um padrão de uso da tecnologia, em uma tentativa de monopolizar um dos seus segmentos por corporações que, muitas vezes, aprisionam seus usuários.



Computadores só entendem 0 e 1 (linguagem binária)
Formatos dizem como converter a informação para a linguagem binária (computadores só entendem 0 e 1). A reconversão das informações em código binário depende de conhecer as regras de conversão dos softwares. Formatos delimitam o que e como pode ser guardado, a quantidade de bits necessários para o arquivamento e a qualidade de recuperação das informações.



Por exemplo, o vídeo gravado em um formato proprietário poderá ser aberto apenas pelos softwares de empresas ou comunidades de desenvolvedores que saibam como implementá-lo por terem desenvolvido sua codificação ou realizado a engenharia reversa necessária a sua leitura e exposição.


Há muitos formatos de arquivos para diferentes tipos de informação mas a maioria é incompatível entre si. Isto significa que se um arquivo for salvo em formato Adobe Flash (extensão .swf), só será aberto em softwares com um plug-in especial do programa Flash Player, que é um aplicativo leve (só 6 MB) somente de leitura, distribuído gratuitamente pela Adobe.



A propriedade de um formato de arquivo digital também dá ao seu dono o controle sobre o software leitor do arquivo. Quando são proprietários, o formato e o software que arquiva e lê informações digitais integram um processo econômico que pode aprisionar seus usuários. Sem acesso às instruções que compõem a conversão do formato ou impedido de desenvolver a conversão por proibição legal, o usuário de um formato proprietário teria um grande custo para trocar todos os dados para se libertar de uma solução proprietária.



2. Steve Jobs X Shockwave Flash da Adobe


Em abril de 2010, o então líder da Apple, Steve Jobs, divulgou um texto explicando os motivos porque a Apple não poderia usar arquivos de extensão .swf (Shockwave Flash File) para gerar animações pelo software Adobe Flash. Jobs dizia claramente que era para a Apple não ficar aprisionada à empresa Adobe.



No texto, chamado Thoughts on Flash (http://www.apple.com/hotnews/thoughts-on-flash), Jobs afirma que “os produtos Flash da Adobe são 100% proprietários. Eles só estão disponíveis a partir da Adobe e a Adobe tem autoridade exclusiva sobre a valorização futura, preços etc. ” [...] Por basicamente qualquer definição, o Flash é um sistema fechado”.



Jobs sabia que o padrão aberto é o que garante a liberdade de criação e de ação de usuários e de desenvolvedores. Padrões fechados colocam os usuários em prisões lógicas que os tornam completamente dependentes dos desenvolvimentos das empresas que os dominam. A argumentação de Jobs aponta os principais obstáculos das soluções proprietárias para qualquer usuário que busque o mínimo de autonomia de decisão sobre suas criações.


3a. O caso ODF (Open Document Format)

Os parágrafos deste item vêm do artigo “Guerra de formatos”, publicado por Sergio Amadeu da Silveira na Revista Select, de 1º Dez. 2011.




Tratam do embate entre formatos abertos e fechados e buscam esclarecer o papel do formato aberto para garantir a interoperabilidade e a compatibilidade de textos produzidos a partir de softwares diferentes.



Para superar as dificuldades da incompatibilidade entre formatos de documentos digitais, foi criado o Open Document Format (ODF) pelo consórcio Organization for the Advancement of Structured Information Standards (OASIS). 


Baseado na linguagem XML, o ODF é aberto e pode ser aplicado por todo software de escritório para armazenar textos, planilhas, bases de dados, desenhos e apresentações. Foi aprovado como norma ISO em 2006, tornando-se um padrão aberto internacional. A finalidade do ODF é superar o aprisionamento lógico que um formato proprietário pode construir.

Independentemente do software utilizado para produzir um texto, ao salvá-lo em um formato ODF, ele poderá ser aberto em qualquer programa editor de texto. Deste modo, adquirimos maior autonomia e independência em relação à empresa que desenvolveu o editor que permitiu salvar o arquivo. Além disso, o padrão e o formato aberto estimulam a competição entre desenvolvedores de software em cima de um mesmo conjunto conhecido de especificações.



3b. Geopolítica: O Brasil na defesa do Padrão ODT x EUA e a Microsoft



O governo brasileiro apoiou a aprovação do ODF na ISO e incentivou a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a adotá-lo. Mas a Microsoft percebeu que o formato aberto logo anularia sua estratégia de fidelização (para publicitários) ou aprisionamento (para economistas e sociólogos) de usuários, pois ao ter que usá-lo em seus produtos, deixaria de ser a única empresa a abri-los.



A Microsoft, como guardiã do software proprietário logo criou um padrão próprio para enfraquecer a existência e adoção do ODF. O mais interessante é que a Microsoft eufemisticamente chamou seu formato de “Open XML”. Repare que o XML é uma linguagem aberta, criada pelo World Wide Web Consortium (W3C), altamente portável, que foi descrito assim na Wikipedia: “não depende das plataformas de hardware ou de software. Um banco de dados pode, através de uma aplicação, escrever em um arquivo XML, e um outro banco distinto pode ler, então, estes mesmos dados”.

Assim, para os desavisados, uma das empresas que mais cria incompatibilidades programadas no mundo digital, teria lançado um padrão aberto.


 
Ironicamente "you need Adobe Flash Player to see this video"




A delegação brasileira na ISO votou contra a definição do Open XML como norma internacional. O coordenador do ODF no Brasil, Jomar Silva, escreveu 42 objeções técnicas sobre o padrão da Microsoft, a maioria sem resposta até hoje. O Brasil conseguiu obstruir a aprovação do Open XML por seis meses, mas diversos países mudaram seu voto depois de uma grande pressão exercida pela Microsoft sobre diversos governos. 

Mas a história ainda não acabou aí! 
Em meio aos diversos telegramas entre as embaixadas norte-americanas e o governo de Washington vazados e divulgados pelo Wikileaks, um deles tratava da guerra dos formatos. Na verdade todos já desconfiavam que a Microsoft atua e atuava em consonância com o governo norte-americano.



O presidente da Microsoft no Brasil, Michel Levy, procurou a diplomacia norte- americana no final de 2007 para atacar a posição do governo brasileiro, apontada como uma agressão à propriedade intelectual, e fruto de uma postura completamente antiamericana. O presidente da Microsoft pedia intervenção do governo norte-americano para barrar a ação contra o Open XML (grafado como XML no telegrama, um erro claro do diplomata, devido ao "eufemismo" da própria Microsoft).



O trecho do telegrama é esclarecedor: De acordo com Levy, o Itamaraty  pressionou a Agência Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para adotar uma postura mais agressiva contra o uso do ["open"] XML como um dos dois padrões possíveis, juntamente com ODF no Brasil. Além disso, Levy afirmou que possuir cartas enviadas pelo Itamaraty a vários governos estrangeiros pedindo que trabalhem em conjunto para suportar apenas o ODF, que possui código aberto como o padrão internacional (Como ele conseguiu estas cartas?).



A Microsoft atuou junto com o governo norte-americano para inverter a posição de muitos países que consideravam equivocada a existência de dois padrões ISO para formatos de documentos digitais. O ODF j á era norma ISO. O peso de Washington e o lobby da gigante do mundo industrial venceram a batalha e o Open XML foi aprovado, mas o ODF não parou de avançar


Se você quer saber mais sobre as famosas espionagens dos EUA há ótimas reportagens no portal da Revista Fórum. Acesse:




4. A educação, os formatos e os REA


Um educador não tem completa autonomia para decidir sobre sua própria criação se utilizou formatos proprietários. Se uma escola produziu suas animações em Flash será obrigado a usar produtos da Adobe para visualizá-las. Além disso, esse formato de arquivamento não permite que o trabalho realizado seja recortado, ampliado, remixado, recombinado e nem melhorado. Existem formatos que excluem as práticas culturais recombinantes sendo completamente impróprios para sua utilização no processo educacional, principalmente se a escola pretende produzir Recursos Educacionais Abertos  (REA).



O PDF é um formato de arquivo aberto, ou seja, qualquer desenvolvedor tem acesso às suas especificações e pode escrever aplicativos que leiam o seu padrão. [Atualmente também é possível editar documentos .pdf com o LibreOffice. Ao exportar um documento para o formato pdf é só marcar a caixa Incorporar arquivo OpenDocument (veja a figura abaixo) que o arquivo fica editável no LibreOffice. Isso é mais um grande passo rumo à liberdade na criação de conhecimento - adicionado por Sidnei Lopes Ribeiro - 2014].

Como o LibreOffice permite edição de documentos PDF

Avery Lee, um desenvolvedor de software livre, recebeu no ano 2000 um aviso do advogado da Microsoft de que seu programa de edição de vídeo não poderia suportar o formato de áudio e vídeo ASF. Lee foi informado que, embora tivesse feito engenharia reversa, a implementação do formato era ilegal porque infringia patentes da Microsoft. 
Os formatos proprietários podem conter patentes, o que impede completamente o seu uso livre e dá ao dono do formato o poder de bloquear sua utilização para determinadas finalidades. 
Para ser aberto um formato precisa ser baseado em padrões abertos. Deve ainda ser desenvolvido de forma transparente e de modo coletivo, como ocorre, por exemplo, com o HTML 5. As especificações de um formato aberto devem estar documentadas e ser acessíveis a todos os interessados.



Por fim, um formato aberto deve ser mantido independente de qualquer produto e não pode ter qualquer extensão proprietária que impeça seu uso livre. A garantia do livre fluxo do conhecimento, bem como os esforços para assegurar o compartilhamento dos recursos educacionais, para avançar a construção do comum e para expandir a diversidade cultural impulsionam os formatos abertos, pois sua característica é de enfrentamento das práticas de aprisionamento lógico, cerceamento e controle da criatividade.



Fonte do texto principal:

Formatos abertos, por Sergio Amadeu da SILVEIRA

In:

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: práticas colaborativas e políticas públicas

Organizadores:

Bianca Santana

Carolina Rossini

Nelson De Luca Pretto



São Paulo/Salvador: 2012 - 1ª edição | 1ª impressão



REMIXE ESTE LIVRO: http://livrorea.net.br




Geopolítica Digital é um blog de 
sidnei lopes ribeiro (aluno de pós-graduação do curso de especialização em Planejamento, Implementação e Gestão de EAD - PIGEAD, da  Universidade Federal Fluminense (UFF), Junho de 2014). 
Professor de Geografia na Rede Estadual de São Paulo desde 1992.